
Adoro as poesias de Castro Alves, mesmo porque sou negra e me emociono muito quando leio. Aliás, apesar de situações fatídicas diferentes, teve um dia em que eu passei horas olhando pro céu perguntando:"Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus?
mas é sobre outra que quero falar. Hoje a tarde ao assistir um trecho da novela "Sinhá Moça" fiquei encantada quando os atores recitam uma que remete a dor da escravidão, já o conhecia, mas é sempre bom lembrar. Triste é ter que lembrar de um afro descendente, o Bruno do Flamengo, que poderia ter mudado a sua e muitas outras vidas com um exemplo de retidão mas resolveu enfeitar as páginas policiais, como muitos irmãos de raça que estão por aí perdidos. E agora dedico esta poesia a ele, assim como escravos que morreram presos na senzala e que não tiveram o que ele teve, ele vai ter MUITO mas muito tempo mesmo para refletir sobre muita coisa, principalmente HUMILDADE, sentimento que há muito ele esqueceu...
Eu sou como a garça triste
Que mora à beira do rio,
As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio.
Me fazem tremer de frio
Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante
Que é livre, que livre voa.
Que é livre, que livre voa
Para as bandas do seu ninho,
E nas braúnas à tarde
Canta longe do caminho.
Canta longe do caminho.
Por onde o vaqueiro trilha,
Se quer descansar as asas
Tem a palmeira, a baunilha.
Tem a palmeira, a baunilha,
Tem o brejo, a lavadeira,
Tem as campinas, as flores,
Tem a relva, a trepadeira.
Tem a relva, a trepadeira,
Todas têm os seus amores,
Eu não tenho mãe nem filhos,
Nem irmão, nem lar, nem flores.
«Castro Alves (1847-1871) foi um dos poetas Brasileiros do século XIX que voou mais alto nas asas da poesia , apesar de ter partido do mundo dos vivos apenas com 24 anos de idade. Tuberculoso no começo da juventude, viveu cada dia da vida como se fosse o último.» Lição de vida para muita gente.
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